terça-feira, 9 de março de 2010

Pânico no palco!

http://www.guiadasemana.com.br/Sao_Paulo/Shows/Noticia/Panico_no_palco.aspx?id=53090

Segundo a mitologia grega, Pan era o deus da fertilidade. Como seu nome significava tudo, Pan passou a ser considerado um símbolo do universo e da natureza. O que hoje conhecemos como pânico tem sua origem no mito de que quem morava próximo às florestas, era perseguido por ele. Dessa forma, o temor irracional ficou conhecido como pânico. Medo de Pan, medo do tudo. É assim que me sinto hoje em relação à indústria fonográfica. Em pânico com tanta informação. Para quem aprecia boa música, dá trabalho acompanhar tudo sobre tudo, em busca de algo bom.

Refleti sobre isso diante do recente anúncio (do que restou) de Michael Jackson sobre os novos shows e a rapidez "schumacheriana" com a qual os fãs esgotaram os ingressos. Coloco Michael ao lado de Madonna, Prince, Stones. Revolucionários, capazes de vender milhões quando era necessário madrugar na loja para sair de lá com o disco. Pré-venda e pacotinho pelo correio eram impensáveis.

Não quero ser saudosista ("no meu tempo era supimpa, hoje, a música não tem nada que preste"). Não é por aí. Há pouco, o Keane (quem? Não, Keane, mesmo) tocou em São Paulo. Confesso que ouvi duas músicas deles. Achei-as monótonas. Mas sete entre as sete pessoas com as quais conversei me falaram que "foi o melhor show que eu assisti recentemente, o cara é simpático, o show é bom". Coloco na conta dois fãs convictos e dois gaiatos, o que dá um tom verossímil à crítica, creio eu.

Perguntei-me o porquê de eu não gostar de Keane (as duas canções sonolentas). Perguntei-me de novo porque não ouvi o resto do disco. Lembrei que, no mesmo dia, havia baixado a discografia do The Killers, do The Umbrellas (aliás, bela banda, fica aí a dica), Little Joy e George Strait. Confesso: não ouvi 20% disso. O pânico falou mais alto. Tentei ouvir tudo, acabei ouvindo (quase) nada. Deixei Keane passar, como um olheiro que dispensa o potencial de Garrincha por achar as pernas muito tortas.

Moral da história: se alguém quer ficar inteirado sobre música, peça demissão, divorcie-se e torne-se o eremita-Napster. Prepare-se para muito lixo, mas prepare-se para um Keane, pouco conhecido, incapaz de levar multidões a madrugar nas portas das lojas devido à concorrência e ao pânico (tudo) que nos bombardeia, mas possivelmente, um dos melhores shows feitos por aqui neste ano. Pânico? Que nada. Respire fundo, apure seu senso crítico, pois no final, terá valido a pena.

Que crise?

http://www.guiadasemana.com.br/Sao_Paulo/Shows/Noticia/Que_crise.aspx?id=48698

Todo mundo sabe que as bolsas de valores ao redor do mundo enlouqueceram. Falar em crise é chover no molhado. Vamos falar de um setor no qual (essa) crise não existe. Desde que foi inventada, a indústria fonográfica jamais experimentou mudanças como as da última década. Tudo começou a partir do Napster e culminou na Web 2.0, essa (maldita) novidade de internet participativa, na qual qualquer um que dedilha meia dúzia de acordes e balbucia interjeições desconexas vai parar na MTV, a indústria entrou em queda livre. Isso deixando de lado a questão da pirataria, o "comércio informal" que existe em cada esquina.

Confesso. Sou admirador de CDs. Ainda os compro, aos montes. Chamo-os de disco. O prazer de chegar em casa, percorrer a estante com meus 400 títulos e selecionar um deles, é arrebatadoramente mais animador do que as pastas amarelas que o Windows gentilmente nos cria para os MP3.

Para colocar mais lenha nessa minha paixão, dirigi-me a uma grande loja de varejo nessa semana. Não procurava nada específico, tinha apenas alguns nomes de artistas de meu gosto pessoal em mente. Encontrei algo. O mais novo disco de George Strait, Troubadour. Strait é um grande ícone do country music norte-americano. Passei o código de barras no feixe vermelho. O display decretou: "GEORGE STRAIT - TROUBADOUR - R$ 98,00".

Chocado, resolvi apenas baixar o disco. Sim. Recuso-me a pagar 25% do salário mínimo vigente em um CD. Já que estava na loja, aproveitei o ensejo e busquei outro título: Bruce Dickinson. Bem mais famoso que George Strait, certamente mais barato. O (maldito) display das barrinhas vermelhas decretou que não (aliás, eles deviam vir com um som de fundo, algo do tipo "na-na-ni-na-não"). R$ 107. Desisti de aumentar minha coleção e voltei ao trabalho.

É curioso e revoltante saber que a terceira maior indústria do mundo (só perde para a de itens bélicos e alimentos) continua faturando altíssimo em cima de terceiros. Remunera mal e escraviza os artistas. Cobra muito e maltrata os consumidores.

Arcaicos, os executivos da música não mudam. Nem o formato de distribuição, nem a quantidade de faixas, nem o acabamento final, nem o pós-venda (talvez oferecendo vantagens para o comprador do título). Nada. Compre, escute. Se não gostou... Problema seu! O dinheiro já é meu! Os preços altos (sob justificativa de assegurar lucro) geram a pirataria. E o ciclo vicioso se inicia. Aumenta-se mais, pirateia-se mais, vende-se menos. Vendendo-se menos, as perdas são repassadas para o consumidor final. E começa tudo de novo. O faturamento caiu? Claro. Mas até que ponto a real culpada por isso tudo não é a própria indústria?

Ps.: Aos que eventualmente gostem de country, recomendo (e muito) o álbum Troubadour, de George Strait. Ótimo trabalho do cantor, que chegou a ser comparado ao vinho pela rádio BX93.com: he just gets better with time (apenas fica melhor com o tempo). Country melódico e interpretativo, sem as irritantes steel guitars e agudos anasalados do gênero. Comprem (ou baixem). Mas lembrem-se: pirataria (obter lucro com o trabalho alheio) é crime!